segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Balanço provisório

Nas passadas semanas os meus colegas e os seu sindicatos resolveram mudar de estratégia. Depois de até sindicalistas, distintos camaradas do dr.Mário Nogueira, terem entregue os objectivos individuais os OI, de repente - quanto todos perceberam que maioria (senão a esmagadora maioria, veremos no final) – dos professores ter entregue os OI (pressionados? para quem nao quer fazer a avaliação qualquer coisa que se diga é uma pressão, pois claro!), agora são todos pelo cumprimento do quadro legal, ou pelo menos ao que lhes convém. Ou seja, depois de meses a apelar ao não cumprimento da lei, os professores querem agora que ela seja cumprida à risca, com tudo a que têm direito!

Isto tem o seu lado de cómico, afinal de contas. Reparem: durante muito tempo não queria entregar os OI, decisivos para a avaliação; agora, os ditos OI, dizem-nos, afinal não contam para nada, e os que não entregaram aparecem a dizer que a única coisa obrigatória é auto-avaliação. Como é que as pessoas são depois avaliadas num sistema que assenta essencialmente na hetero-avaliação é que ainda ninguém me conseguiu explicar, claro. Mas isso também não conta muito: agora todos se sentem apoiados num parecer produzido pelo distinto dr.Garcia Pereira, que, pago pelos professores, concluiu que tudo isto é inconstitucional. Espantoso: um especialista pago pelos professores produz um perecer que sustenta o que os mais teimosos desconfiaram desde sempre! Extraordinária alquimia.

Talvez o país prefira saber que os professores, agora, afinal, pretendem zelar pelo perfeito cumprimento da lei – não fosse , claro, estar toda a gente preocupada com a crise, e não com a birra dos professores. Birra, sim, porque a atitude e a vontade em (não) ser avaliado é a mesma, apenas mudou a estratégia, mais uma vez sob a brilhante batuta do dr.Paulo Guinote - que soube arrastar a Fenprof, depois de esta sempre ter dito que esta questão não ser uma questão que se resolvesse nos tribunais. De repente, passou a ser.

Agora a Fenprof quer, para além do famoso cordão humano a unir a 5 de Outubro - que dará óptimas imagens de helicóptero, e quiçá mesmo fotos para colocar no Google Earth - a São Bento, prometem estender a luta pelo 3.º período. Que é o mesmo que dizer, o suicídio: quando os pais dos nossos alunos perceberem que esta fantasia se prolonga pela altura de preparação dos exames, vão cair na realidade. Talvez, nessa altura, também os meus colegas. Se bem me lembro, foi para “salvar” o 3.º período que a Fenprof assinou o memorando com o Ministério em Abril passado. Seria este ano que iria radicalizar a luta? Claro que não.
De qualquer forma, como estamos numa altura em que qualquer táctica vale para não fazer, tudo é possível. De greve em tempo indeterminado a demissão dos PCE, passando pela "greve" à entrega dos OI - expliquem-me por favor: se os OI afinal não são, como dizem os sindicatos e os acólitos do dr.Guinote, essenciais à avaliação, qual o seu motivo de ser?? -, já quase tudo foi equacionado. De qualquer forma, confio na "imaginação" dos meus colegas: eles encontrarão novas formas de "luta" e de se manterem "unidos".
Infelizmente, não é para isto que eles são pagos.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

"Quem tem medo da avaliação são os maus professores"

Se a nova geração de professores pensar como algumas destas pessoas entrevistadas nesta excelente peça do Diário de Notícias, fico um pouco mais descansado em relação ao futuro...pelo menos a probabilidade da "situação" actual se repetir será bastante mais reduzida.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Frase do mês (ou do período lectivo)

«P: Como devem resistir os professores?

R: Cada docente está, neste momento, confrontado com a decisão individual de participar ou não de forma activa num processo de avaliação de que a generalidade diz discordar. Assinar moções é inútil se isso não se concretizar no acto individual de não entregar os objectivos individuais.»

O dr.Paulo Guinote, hoje, em entrevista ao "Diário de Notícias". Parece que descobriu a pólvora. Espero que divulgue isto bastante no seu blogue, pode ser que esclareça algumas mentes. E pode ser que percebam porque estão e vão perder a 'guerra'.

Entendam-se

Parece que o dr.Paulo Guinote e os seus acólitos pediram ao dr.Garcia Pereira matéria para entupir os tribunais - seguindo a velha estratégia sindical. Mas parece que vão ter que convencer o dr.Mário Nogueira, que disse ao "Correio da Manhã" de ontem isto: «Quando acharmos que os problemas se resolvem nos tribunais bem podemos desistir, até porque demora muitos anos. E nós não estamos a lutar contra ilegalidades».

O dr.Mário Nogueira, fiel membro do PCP, não deve ter gostado muito do grande líder "sindicalista-sombra" - o dr.Paulo Guinote - ter recorrido aos recursos da cara do PCTP-MRPP. Há guerras à esquerda que nunca são esquecidas.

Um sinal muito revelador...

Abel Macedo, Júlia Vale, Adriano Teixeira de Sousa e Carlos Midões, elementos da direcção desta estrutura que integra a Fenprof e a CGTP, acusam o PCP de perseguição e admitem que outras saídas poderão ocorrer.
Em causa estará o apoio dado por estes sindicalistas a Manuela Mendonça, que foi concorrente de Mário Nogueira nas eleições para a direcção da Federação Nacional de Professores (Fenprof).
Contactado pelo Expresso o PCP "esclarece que se trata da formalização pelos próprios de uma situação há muito verificada".


segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O país tem mais em que pensar

Se bem me lembro, nenhuma das antenas abertas de rádio ou televisão de hoje foi dedicada à greve dos meus colegas - um sinal muito revelador de como os orgãos de comunicação social estão a começar a ficar um pouco fartos disto.

O culto da personalidade...

...da FENPROF não pára de me espantar...Depois das entrevistas a si próprio (!), agora já temos o Mário Nogueira em versão vídeo.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

E só agora é que perceberam isso?

"A demissão em bloco de professores que foram eleitos pelos seus colegas para os representar não iria resolver qualquer problema. Seria antes uma traição aos professores que os elegeram", disse ontem a dra. Rosário Gama à saída de reunião de 4 horas (!) no ME.

Pergunto-me se ninguém se lembrou desta conclusão óbvia quando resolveram ameaçar com a demissão colectiva. Eu já aqui tinha dito: a inexperiência política destas pessoas é confrangedora, e o estado de desespero em que estão é por demais visível.

Mas há mais: percebe-se que a dra.Rosário Gama só reconhece o que os seus pares querem num dado momento, mas não o que lei manda fazer. É uma concepção muito adolescente de democracia, e leva à completa desresponsablização dos líderes. O que a dra.Rosário Gama faz, com comportamentos destes, é legitimar a mudança no enquadramento jurídico que o Governo levou a cabo no regime de gestão e autonomia das escolas, instituindo a figura do director, porque com pessoas destas à frente das escolas, as decisões difíceis para a maioria - mas em conformidade com a lei - vão sempre para a gaveta.

A dra.Rosário Gama acha que não vive num Estado de direito, mas num estado das "multidões enraivecidas". E dá-lhes razão. Chamam a isto 'coragem'?

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Burocracia!


Este é uma imagem do documento que a FENPROF elaborou para servir como guia para as discussões nas escolas que decorreram no dia de ontem (disponível daqui). A minha observação imediata é que não ouvi ninguém a dizer que o documento era uma chatice de preencher e bastante burocrático: tem 4 páginas, uma das quais integralmente ocupada com campos que fazem lembrar as grelhas de avaliação do ME, pomposamente intitulado "Registo das conclusões da reunião"...Quando é para protestar, não há burocracia que incomode.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Não pode haver professores "muito bons" e "excelentes"

É isto que se conclui da intenção da Plataforma sindical de fazer greve às aulas assistidas. Se for tudo mediano, não há problema nenhum.

domingo, 11 de janeiro de 2009

As moções de suspensão não são "meios legais"

Nesta notícia do DN de sábado que dá conta que Vinte escolas suspenderam avaliação em dois dias, lê-se: «"Os professores sentem que têm o direito à indignação através dos meios legais", diz João Dias da Silva, da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (...)».

Acontece que, como João Dias da Silva bem sabe, uma moção de suspensão ao nível da escola não tem nenhuma validade legal. A avaliação é um direito individual, e não há documento nenhum de um qualquer colectivo auto-proposto que possa impedir um professor que queira entregar os seus objectivos individuais e avançar com o seu processo de avaliação de desempenho.

Aliás, Ilídio Trindade também sabe disso. Por isso, «confirma que o dia 13 será decisivo na luta contra a avaliação, mas defende que a partir de agora é preciso começar também a fazer a contabilização professor a professor, e não apenas das escolas que aprovam a suspensão: "É que, mesmo se tivéssemos o caso de todas as escolas apresentarem os objectivos individuais, haveria ainda assim muitos professores que não o fariam e continuavam a resistir. Poderiam até ser a maioria. E é preciso fazer essa contabilidade"».

Ora, o que significa isto, na verdade? Significa que os que não concordam com as moções vão ser identificados, apontados, quantificados, e ainda mais ameaçados do que já são. É bom que estas práticas sejam feitas de forma transparente e que apareçam na imprensa. Tudo, claro, com a benesse dos sindicatos.

Isto mostra bem a estratégia em curso: a da intimidação aos colegas que não alinham com esta farsa e que está a custar os olhos da cara à imagem pública da classe.

Lucidez

Um texto lúcido de António Alberto Silva, Professor na ESE do Porto, a ler atentamente aqui.

A via cada vez mais estreita da resistência

O decreto-regulamentar relativo à avaliação foi promulgado pelo PR e publicado no Diário da República. No parlamento, as propostas do PSD, do BE e do PEV foram chumbadas na passada quinta-feira. Isto não parece fazer diferença nenhuma para os professores, que estão a ver a via legislativa da resistência cada vez mais estreita.

Hoje, decorreu a reunião famosa reunião de Santarém com PCEs. Aparentemente, estiveram 10% das escolas do país. Mas estes PCEs representam o quê, para além deles próprios? O Conselho das Escolas tem legitimidade institucional. Este grupo de pessoas que se associaram não tem legitimidade nenhuma. O PREC está decididamente de volta.

Entretanto, o país está mergulhado numa crise social e económica impressionante. O que achará o país de dezenas de milhares de profissionais que protestam não porque vejam os seus postos de trabalho em perigo, não porque tenham salários em atraso, mas simplesmente porque não querem ser avaliados?

Uns lunáticos falam mesmo em greve por tempo indeterminado. São uns iletrados em política, vê-se. Quando o dr.Mário Nogueira vem dizer que isso seria irresponsável, está tudo dito sobre a capacidade estratégica dessa gente.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Uma de muitas vozes pela real valorização profissional

Agora on-line no "Expresso": A professora que defende a avaliação.

Manipulação estatística II

O "Jornal Notícias" escreve hoje que a DECO já recebeu 135 queixas do e-escolas. Não sei se o jornalista - que deve ser também etnólogo, dado que nos informa que «[o]s lamentos são muitos. Em fóruns na Internet, em telefonemas para a comunicação social, na rua, nos transportes e nos cafés»... - queria criticar o programa do Governo, mas....135 queixas em quantos computadores distribuídos?? 100 mil? 200 mil? 300 mil? 400 mil? A ser verdadeiro, o valor de 135 queixas é um número ridículo...

Fátima II

Depois de D.José Policarpo, foi a vez de D.Carlos Azevedo ter abordado a questão da controvérsia política em torno dos professores:

«O bispo auxiliar de Lisboa considerou que os professores têm sido usados como instrumento e que a questão da avaliação dos docentes tem sido extrapolada à custa da influência dos professores.
Em entrevista à TSF, D. Carlos Azevedo, que considerou que o ensino está, mesmo assim a atravessar uma boa fase, espera que a «arte tão difícil de ser professor não seja aproveitada meramente para os fazer reagir a uma dimensão muito pequenina que é a avaliação».
"Há aqui um aproveitamento do descontentamento só para a dimensão da avaliação e acho que os professores deviam estar mais atentos a estes processos", explicou o antigo porta-voz do episcopado.»

Ruptura anunciada?

A notícia do Diário de Notícias de hoje dá conta de como Mário Nogueira procura 'segurar' a Plataforma nas negociações com o ME sobre o ECD. Não se procura 'segurar' senão aquilo que está quase a 'partir-se'.

Esperemos pelos próximos capítulos. Mas é provável que a aliança PSD-PCP na Plataforma já tenha vivido melhores dias...

Manipulação estatística

Depois de uma manifestação de 120.000 que contou com muitos não-professores (como é lógico; porqueé que a imprensa não explora esta questão?), agora um abaixo-assinado que contará com muitas assinaturas, de novo, de não-docentes?

A FENPROF está mesmo à espera que acreditemos nos números que torna públicos? É lógico que este abaixo-assinado tinha que ter um pouco mais do que o de 2006, que tinha reunido, alegadamente, 65 mil assinaturas. Agora tinha que ser um pouco mais. 70 mil era um número previsível.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Estou comovido

Os títulos dos nossos diários de referência de hoje sobre os professores são comoventes:

"Líderes sindicais não têm avaliação nem progridem", diz o Diário de Notícias

"Maioria dos docentes acredita que avaliação vai prejudicar aulas e relação com os colegas", diz o Público.

Pergunto candidamente: mas seria aceitável o contrário??? A questão devia ser como é que Mário Nogueira chegou onde chegou na carrreira sem ensinar há duas décadas. Alguém se espanta que este sindicalista aceite que aulas observadas façam parte de um modelo de avaliação?

Um processo de avaliação cria "mau ambiente" nas escolas? Bom, talvez. Mas acho estranho que agora, só agora, os professores estejam preocupados com o "ambiente" nas escolas. No passado, antes de estarem "unidos", como agora dizem, ninguém se preocupava com a qualidade do clima humano no seu interior. E, garanto-vos pelos vários sítios por onde passei - e pelas pessoas que conheço pelo país fora - que esse clima não era famoso. Só quando chega a avaliação é que os meus colegas se preocupam com isso?

E já agora, se a avaliação cria mau ambiente, que tal acabarmos com a avaliação aos alunos? Assim, uma escola sem professores e alunos avaliados seria uma "escola feliz", como diz o poeta de serviço.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Facilitismos

Circula pelos órgãos de comunicação social a notícia de que 75% dos professores mudavam de profissão se tivessem alternativa. Eu sei que isto não é muito politicamente correcto nesta altura, mas podiam informar como foram escolhidos os inquiridos?

Os dados são do Observatório da Avaliação de Desempenho, órgão criado pela Federação Nacional dos Sindicatos da Educação e pelo Instituto Superior de Educação e Trabalho, e foram inquiridos mais de mil docentes, mas a questão central é como foram seleccionados. É que se, como me parece ter acontecido, as pessoas preencheram o inquérito livremente on-line, então acontece o que acontece sempre em fenómenos deste tipo: os mais mobilizados, que são também, nesta altura, os mais descontentes, são os que mais respondem, acabando por ter uma representação nos resultados finais muito superior ao que teriam se a amostra sido tivesse cuidadosamente construída para respeitar critérios de representatividade da classe.

Se isto não aconteceu, estes dados valem o mesmo que aqueles que podemos obter num inquérito num site de um jornal ou de uma televisão, como já houve muitos. Ou seja, nada.

Fátima

Quando Mário Nogueira se reuniu na semana passada com a Conferência Episcopal na sua volta pelo país em pedido de apoios institucionais, lembrei-me, vá-se lá saber porquê, do périplo realizado no ano passado pelos pais à procura da desaparecida "Maddie". Pensei, de repente, que talvez aqui também o Vaticano seja o limite.

Aparentemente, a visita não terá tido o impacto ou o significado que Mário Nogueira propagandeou; no programa "Prós e Contras" da segunda-feira passada, o Cardeal Patriarca de Lisboa, D.José Policarpo, sentiu a necessidade de desmentir que a Igreja tenha tomado alguma posição no conflito, e clarificar a sua posição:

«A Conferência Episcopal não tomou posição nenhuma. Eu soube disso pelo noticiário da rádio...O que aconteceu foi que uma determinada convergência sindical pediu uma audiência ao senhor presidente da Conferência Episcopal, que lha deu pessoalmente. É evidente que todos os meios de comunicação social, ao comunicarem essa audiência disseram "os bispos" (...) Eu fui presidente da Conferência Episcopal, sou bispo, não vou dizer se me reconheço ou não reconheço no que foi feito, [mas] eu não tive nada a ver com isso».

Para ser necessário vir esclarecer isto na televisão...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Descubra a diferença

Na sexta-feira passada, um aluno da Casa Pia morreu depois de ter sido esfaqueado. Um crime brutal. Lembram-se? Meia semana depois, provavelmente nem por isso. Hoje, ninguém nos meios de comunicação social atribui muita importância a este facto.

Há uns meses, quando uma professora e uma aluna andaram aos empurrões por causa de um telemóvel numa escola pública no Porto, o país entrou em histeria. Os meios de comunicação social não queriam saber de outra coisa. O Procurador-Geral da República ficou escandalizado. Meio mundo achava que a culpa era de you know who por ter tirado a 'autoridade' aos professores. Não havia quem não opinasse sobre a 'degradação da escola' e exteriorizasse a sua 'indignação'.

Perceberam a diferença, não perceberam?

Como não pensar a responsiblidade dos professores pelo (in)sucesso dos alunos

Circula por aí o discurso de Maria Rosário Gama no passado domingo na Aula Magna. Aí encontramos a velha história de vitimização da classe a partir do argumento - alegadamente defendido pelo ME - de que o insucesso escolar é responsabilidade ('culpa') integral do professor:

«De repente, com esta equipa esqueceram-se os principais factores nacionais geradores do abandono e do insucesso:
as condições sócio-económicas de muitos dos nossos alunos e dos seus pais;
a desagregação das famílias e respectiva ausência de autoridade;
a cultura dominante de que o êxito se consegue sem esforço ou que tudo tem de ser tornado fácil para se atingirem objectivos;
a desvalorização social da Escola e dos seus agentes, entre outros.
Fez-se cair toda a culpa na organização da Escola e no seu corpo docente».


Ora, sem dúvida que estes factores contam. Quanto a eles, qualquer Governo - que não necessariamente um Ministério da Educação, que, vale a pena lembrar os mais distraídos, tutela (e paga!) os professores, e não as famílias - pode fazer coisas importantes; por exemplo, melhorar as condições sócio-económicas e culturais dos indivíduos e agregados familiares, entre outras medidas (que os professores por vezes não gostam: como aproximar as famílias da vida da escola...). Mas, convém também lembrar, não pode resolver todos estes problemas. Pensar dessa forma seria aceitar que vivemos num universo totalitário, no qual os governos podiam resolver todos os problemas e podiam, inversamente, ser responbilizados, na íntegra, pela sua continuação.

Agora, sejamos honestos: será que os professores não têm qualquer responsabilidade - positiva ou negativa? É interessante verificar que quando os professores são bons e os alunos lhe ficam agradecidos, etc., ninguém questiona o "efeito-professor" (que as ciências sociais estudam há pelo menos três décadas, e que está mais do que demonstrado); quando não são tão bons e os alunos são prejudicados por esta situação, então toca a assobiar para o lado.

Ora, se os professores podem ter um efeito positivo, também podem ter um efeito negativo. Isto não é um "ataque aos professores"; é lógica elementar. O que não podemos é pensar da forma mais escandalosamente assimétrica e achar que os professores podem influenciar positivamente, mas não podem influenciam negativamente. Isto não é sério (e se o efeito fosse neutro, e apenas as variáveis externas contassem, então um dia poderíamos substituir professores por robots).

Para mais, não vi em lado nenhum qualquer governante dizer que a culpa (ou mérito) era toda dos professores. Se assim fosse, estes teriam que ser avaliados 100% pelos resultados escolares dos alunos, como pessoas que os professores tomam por aliados nos dias de hoje pensam: José Manuel Fernandes, António Barreto ou Desidério Murcho (como escreve na crónica de hoje) - estes sim, atribuem toda a responsabilidade dos resultados dos alunos à qualidade dos docentes!

Mas, pelo que sabemos, o critério das notas dos alunos contava apenas 6,5% na avaliação do professor. 6,5%! Se querem simplificar e brincar um pouco com os números, então temos que concluir que o ME considera que a responsabilidade dos professores no (in)sucesso se resume a 6,5%!

Claro que isto não se encaixa no discurso de vitimização de Maria Rosário Gama e da grande maioria da classe. Por isso, ignora-se. Assim, quando a autora cita Mia Couto para dizer que os professores têm «uma arma de construção massiva: a capacidade de pensar», era bom que a começassem a usar. Não vá alguém pensar que a arma é de plástico.

Estratégias suicidas

Sou daqueles que pensa que muitas atitudes dos professores em público ao longo dos últimos meses fizeram mais para desgastar a sua imagem perante a sociedade do que qualquer Ministério podia ter feito. Por isso, já não fico espantado por ler escritos como este - que é suposto ser uma "piada" -, que na verdade são uma enorme deslegitimização do trabalho da escola e dos professores e levam qualquer pessoa de bom-senso a perguntar: para que serve a escola, então? por que motivo o Estado paga a 140 mil pessoas para dar aulas, se o resultado é este, e se aparentemente (?) as pessoas aprendem melhor fora da escola do que no seu interior (contra qualquer prova histórica...)? Não é preferível o Estado deixar de fazer investimento neste sector?

Pergunta adicional: se fosse um não-professor a escrever uma prosa destas, não ficariam os professores - a começar pelo beligerante dr.Ramiro Marques - extraordinariamente ofendidos?

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A lei das 10 escolas por dia

Ou muito me engano, ou todos os dias são adicionadas 10 escolas - nem mais, nem menos -, no site da FENPROF, ao número dos estabelecimentos que exigem suspensão/suspenderam o processo de avaliação? Hoje são 450; amanhã serão, muito provavelmente, 460. E, na quarta-feira, 470. E por aí em diante.

Pelo menos, esta evolução é previsível. Tempos houve - há umas semanas, mais precisamente - em que os números variavam como se de uma montanha russa se tratasse.

domingo, 14 de dezembro de 2008

A FENPROF e a lei

A FENPROF tem uma relação particularmente bizarra com a lei. Quando não interessa, como no caso da avaliação desempenho, ignora-se, viola-se, apela-se à desobediência civil.

Quando interessa, então já leva muito a sério o seu espírito e a sua letra, e toca então a prescrutar a lei do Governo para apanhar qualquer ilegalidade.

Este oportunismo, este instrumentalismo, este sectarismo não podem ser a cara pública da classe.

O dia em que a esquerda e os rankings dão as mãos

A dra. Rosário Gama prossegue a sua ascenção no microcosmos da extrema-esquerda portuguesa - o que, parece-me, diz mais da robustez intelectual desta do que do discurso e da pratica de esquerda da professora. O curioso é que, de repente, todos os professores que detestavam os rankings das escolas passaram a idolatrá-lo quando a dita "melhor escola pública do país" havia decidido suspender a avaliação e a sua líder tinha sido catapultada para a estratosfera político-mediática.

Já agora, senhores jornalistas, perguntem à dra.Rosário Gama qual o segredo dos resultados dos seus alunos. Deixo-lhes uma dica: talvez tenha a ver com práticas de selecção e triagem dos jovens aceites....Enfim, coisas nada de esquerda nem de defesa da "escola pública".

Mas quem sou eu para estragar a festa das "esquerdas"...

Está nas nossas mãos...

...mostrar que estes senhores - o Daniel Amaral e o Emídio Rangel - estão enganados. Para já, e pelo que se têm assistido, tenho infelizmente que concluir que muito do que eles dizem é verdadeiro.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Por favor, preciso de um dicionário

Olhando com alguma atenção para a proposta da Fenprof - perdão, da Plataforma sindical no site da Fenprof (assim é que é) -, pude confirmar aquilo que me tinha parecido aqui.
Assim, às tantas lê-se:

«(...) a) Procedimento de avaliação centrado na auto-avaliação, preferencialmente através de documento de reflexão, acompanhado de um dossier organizado com a planificação de aulas, testes, estratégias de intervenção, entre outros materiais do quotidiano lectivo do docente (...)».

Um dossier. Hmmm. É este o momento em que precisamos de um acto de hermenêutica radical, dado que o vilipendiado portefólio do modelo de avaliação do ME, causa de todos os males deste mundo e dos próximos, é substituído por um dossier organizado e acompanhado por todo o tipo de papelada - a tal papelada que, há umas semanas (antes de todos se terem lembrado que, afinal, o que estava em causa era o ECD), impossibilitava tanta boa gente de avançar com a avaliação.

Um portefólio ou um dossier, eis a questão. E acções de formação para a constituição do dito dossier, também vão reivindicar?

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Umbiguismos

A Fernanda Câncio tem escrito vários artigos sobre os professores nos últimos tempos. Muitos não são simpáticos para a classe e, por vezes, um pouco demagógicos, mas o assédio de que deve estar a ser alvo pelos que lhe escrevem deve fazer qualquer um perder a cabeça.

Independentemente disso, a confissão do Paulo Guinote sobre o artigo de hoje foge completamente ao essencial. A Fernanda Câncio cita uma série de estatísticas da OCDE que permite colocar a educação em Portugal no mapa dos países mais prósperos. Alguns dos números são impressionantes - e um dia iremos a eles aqui neste blogue - e, claro está, desconhecidos da larguíssima maioria da classe docente portuguesa.

Esta atitude - feita de um misto de provincianismo, de elogio da ignorância, e de desprezo pela comparação do que é a realidade de profissionais de outros países (já para não falar da comparação com a realidade de outros profissionais em Portugal...) - é, afinal, compreensível. É a prova do umbiguismo da maioria dos professores. E da aversão a fazer perguntas como: será que as nossas condições são assim tão más, tendo em conta que trabalhamos numa das sociedades menos prósperas da Europa? será que não podemos fazer mais para melhorar um pouco a escola e a educação em geral em Portugal? será que o escarafunchar das nossas feridas profissionais não tem limites, perante a crise que a maioria dos portugueses vive?. São muitas outras perguntas deste género que ficam por responder...

Manifesto pela avaliação de desempenho docente

Notícia aqui. Serão estes professores com 'p' pequeno, como disse Mário Nogueira antes da greve do passado dia 3?

TPC para muitos

Aqui.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Como estoirar com o prestígio da classe

Este título, em honra a um post - "Como estoirar com a avaliação" - publicado num blogue de referência, e que mostra a "boa fé" de muita pessoas nas escolas, capta bem o que se retira da proposta de solução transitória de avaliação da FENPROF apresentada hoje no CNE, na reunião com a equipa governativa.

Admirem-se depois que pessoas como o Miguel Sousa Tavares - cuja opinião é um bom barómetro do pensamento popular - achem, como disse há pouco na TVI, que isto tudo é uma «palhaçada» e que, com estas propostas, a classe só mostra que, lá no fundo, não aceita qualquer avaliação digna desse nome.

É que não basta ser sério. É preciso parecer.

"Se o PC é a favor eu sou contra!"

Zita Seabra contra suspensão da avaliação dos professores

A deputada do PSD justificou a sua ausência na votação da moção do CDS-PP, que propunha a suspensão do processo de avaliação dos professores, com razões de ordem política.

O 'modelo'

Oiço o dr.Mário Nogueira em directo na TV a propor o seu "modelo". Para quem diz que o modelo do ME é complexo e burocrático, a sua alternativa parece-me uma verdadeira salganhada, sem uma filosofia, sem um fio condutor, e que mete papéis, papéis e mais papéis (só falou falar do tal 'portefólio'): burocracia!!!

E fez o papel que tem vindo a fazer das últimas vezes: de vítima.

Lei = propaganda?

Vários colegas meus estão muito incomodados com o facto de estarem a receber mails da DGRHE. Dizem que são intimidações e ameaças. Mas não protestam quando são inundados com 'panflas' e outros 'materiais' dos sindicatos. É compreensível. Durante anos as escolas foram feudos dos sindicatos. Praticamente toda a informação tornada disponível vinha deles e, quando chega à maioria das pessoas, era selectivamente filtrada e 'condimentada'.

Os e-mails, que, pelo que pude perceber, dão conta do que diz a lei, são apelidados de "propaganda fascista"; os 'panflas' sindicais, portentos de contra-informação e inverdades, é que são os panegíricos da liberdade. Bizarro, no mínimo.

Depois alguém se espanta que apareçam professores em prime-time televisivo a dizer coisas que, se tivessem lido ou compreendido a lei, teriam vergonha de dizer? Eu não. Não sei quantas pessoas, na minha escola, leram o decreto-regulamentar. Acho que foram poucas - muito poucas. Dizem que preferem não ler, e dizem-me que é 'propaganda'...

Da "ética" e da "cidadania" na escola

Um dos 'nossos' heróis nacionais, dr.Ramiro Marques, escreveu - e aparentemente, de seguida, apagou - isto (agradecemos ao blogue "Câmara Corporativa" por não ter deixado passar esta situação em claro).

Estas coisas são escritas, atente-se, por pessoas que também escrevem livros como este ou este.

Uma grande cambalhota

Parece que hoje, na reunião com o ME, a Plataforma sindical vai apresentar a sua proposta de avaliação transitória para este ano lectivo. Ouvi a rádio esta manhã e fiquei incrédulo. Dei-me ao trabalho de fazer alguma pesquisa na net. Assim, por ordem cronológica...

DN, 23.11.2008
«Na sexta feira, para o encontro com a ministra da Educação, a Plataforma Sindical levará já uma proposta de avaliação para "salvar o ano lectivo". Será uma solução simples, sem questões burocráticas, transitória, focada na vertente científico-pedagógica e para aplicar aos professores em vias de progredir na carreira. (…) "Excluímos qualquer solução administrativa, como por exemplo, atribuir Bom a todos os professores, e qualquer simplificação do modelo actual", disse Mário Nogueira. O representante dos sindicatos adianta ainda que a proposta não será semelhante ao regime simplificado aplicado no ano lectivo anterior.»

TSF, 23.11.2008
«"Este ano deve existir um procedimento avaliativo também ele formativo, centrado na actividade pedagógica dos professores que não tenha nada a ver com administrativo", revela Mário Nogueira.»

Público, 24.11.2008
«O sistema que os sindicatos vão propor, avança, é "uma solução simplificada", que pretende aliviar os professores da carga burocrática do actual processo.Este sistema prevê uma avaliação centrada sobretudo na componente científico-pedagógica, explica, por seu turno, João Dias da Silva, da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE): "A avaliação deve incidir sobre as diferentes dimensões do trabalho do professor e não apenas na observação de dados administrativos", como o número de presenças ou a assiduidade».

Lusa, 25.11.08
«Questionado pela Lusa à entrada de uma reunião com o CDS-PP, Mário Nogueira não quis adiantar pormenores sobre a "solução avaliativa transitória" para os próximos seis meses, justificando que a proposta terá de ser primeiro apresentada ao Ministério. Limitou-se a dizer que será "centrada nos professores, na sua actividade com os alunos" e que irá envolver o conselho pedagógico das escolas».

DN, 27.11.08
«O porta-voz da Plataforma, Mário Nogueira, já tinha informado o DN que os sindicatos iam apresentar "uma solução simples, não administrativa e focada na vertente pedagógica que permita aos docentes serem avaliados este ano". Proposta agora concretizada por outros dirigentes do movimento sindical».


Hoje, dia 11.12.08, na TSF:
«A ministra da Educação reúne-se, esta quinta-feira à tarde, com a Plataforma Sindical dos professores, que vai apresentar a Maria de Lurdes Rodrigues uma proposta para que a avaliação dos docentes se sustente apenas na assiduidade e cumprimento dos serviços atribuídos a cada professor.
João Dias da Silva, secretário-geral da Federação Nacional da Educação antecipa à TSF a sugestão transitória que vai ser deixada no ministério. O dirigente sindical considera que a avaliação deve ser baseada em apenas dois parâmetros.
«É uma solução que passa pela capacidade para efeitos da avaliação deste ano de duas ordens de factores, quer de assiduidade quer de cumprimento do serviço distribuído em cada escola para os diferentes professores», explica o dirigente sindical.»

É impressão minha ou os sindicatos vão defender hoje à tarde uma coisa que juraram a pés juntos ser impensável há umas semanas?

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

OPS!!

Escolas desmentem FENPROF.

Logicamente, estaria em cima da mesa se a FENPROF tivesse ganho

ME tenta "desviar" a atenção para matérias que não estão "em cima da mesa"

O Ministério da Educação fez questão de enviar à Comunicação Social notícia da decisão do Tribunal Constitucional (TC) que decidiu não considerar inconstitucional a determinação de serviços mínimos em momentos de exames. A questão foi suscitada em 2005 e foi agora decidida.

No fundo, quem teve sorte foi a FENPROF, porque noutra altura isto teria mais visibilidade mediática - a que merecia.

Da "transparência"

Noutros tempos, chamariam a isto uma coisa "pidesca". Mas isso, sabemos hoje, esta apenas reservado para acções de políticos e titulares de cargos públicos.

No caso dos professores, chamamos a isto "práticas de solidariedade" - em contexto de guerrilha organizacional, claro, onde vale-tudo-menos-tirar-olhos.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Uma conspiração internacional

O dr.Paulo Guinote descobriu que estas políticas educativas de "ataque" e "ódio" dos professores - e aquelas coisas do género que se escrevem por aí - fazem parte, afinal, de uma espécie de conspiraçao internacional, ainda por cima sustentada em estudos sérios.

Verdades politicamente incorrectas

Avelino de Jesus escreve hoje no "Jornal de Negócios":

«(...) Existe hoje uma potente metodologia – desenvolvida, com sofisticados instrumentos estatísticos, desde meados dos anos 1990 – de avaliação dos docentes, baseada no valor acrescentado do conhecimento dos alunos atribuível aos docentes.
Estes estudos mostram que os bons professores estimulam os alunos e que a origem social da família de origem pode não determinar o destino do estudante. A correcta afectação dos docentes aos grupos de estudantes com diferentes prestações aumenta os resultados globais. Apenas 42% dos alunos fracos obtêm aproveitamento com maus professores; mas aquela percentagem passa a 90% se aqueles alunos tiverem bons professores. Por sua vez, 100% dos bons estudantes ensinados por bons docentes conseguem aproveitamento; a percentagem de aproveitamento destes alunos baixa para 90% se forem ensinados por maus professores.
Ora, sabemos que o sistema português – apesar da roupagem igualitária – gera uma afectação ineficiente e iníqua: os bons professores ficam, por norma, com as melhores turmas, enquanto os piores docentes ficam com as piores. O ganho da realocação de um bom docente de uma boa turma para uma turma fraca é muito superior à perda que se gera por substituir, numa boa turma, um bom docente por um docente fraco (...)».

[e do processo de distribuição das turmas pelos professores, a culpa também é da 5 de Outubro?]

Suspender é matar qualquer avaliação

Pedro Lourtie escreve hoje no "Diário Económico" sobre a avaliação dos docentes do ensino superior, mas começa por comentar o processo de avaliação de desempenho dos professores do ensino básico e secundário. Assim, remata afirmando que:

«(...) Independentemente da valia do dito modelo, dos erros, dos problemas, e dificuldades do processo de implementação, estou convencido que a suspensão da avaliação resultaria no seu adiamento sine die, o que seria uma perda real».

Ainda bem que alguém escreve isto com todas as letras. Porque é exactamente nisto que os sindicatos e os movimentos ditos "independentes" apostam. E o Ministério da Educação sabe o mesmo, pelo que não suspende coisa nenhuma. Se o processo em curso fracassar agora, o ME sabe - e os políticos responsáveis deste país também - que nenhum Governo se volta a meter neste carrossel tão cedo. Sabem, pois, que é esta avaliação agora - reformável a curto prazo se for necessário, como o Governo já admitiu claramente e vem escrito no memorando de entendimento de Abril passado - ou nenhuma avaliação.

Não venham com conversas de modelos "alternativos".

Para efeitos de confirmação

Se dúvidas existissem sobre o motivo da suspensão das greves regionais marcadas para esta semana, leia-se esta reflexão de Paulo Ambrósio - sub-coordenador da Frente de Professores e Educadores Desempregados do SPGL/FENPROF, e membro do Grupo de Trabalho da Precariedade e Desemprego Docente da FENPROF - aqui.

O autor dá conta das «informações que chegavam das escolas, francamente desanimadoras, [que] criavam um risco real destas greves registarem baixa adesão e poderem ser o flop que logo o ME exploraria mediaticamente dizendo que os professores finalmente tinham entendido a manipulação de que estavam a ser alvo pelos sindicatos e partidos da oposição».

Desobediência

O querido líder dos meus colegas, Mário Nogueira, apela ao não cumprimento da lei. Os auto-proclamados fazedores da opinião docente, Paulo Guinote e Ramiro Marques, transformados em heróis nacionais, exortam à desobediência colectiva.

O argumento é comum: o governo nada pode, se toda uma classe se unir no desrespeito da lei. A ilegalidade colectiva goza de impunidade. Quando alguém exige o cumprimento da lei, corre o risco de ser apelidado de "fascista"...

Quando leio estas coisas, interrogo-me sempre sobre que valores passamos aos alunos. Mas a culpa, sabemos das salas de professores, nunca pode ser imputada aos profissionais. Tudo de mal só pode ter, sabemos, um responsável: o Ministerio da Educação!

Existe um nome para isto: chama-se irresponsabilidade organizacional (ou colectiva).

sábado, 6 de dezembro de 2008

Prémio por serviços prestados


Da "seriedade" e da "boa fé negocial"

No site da FENPROF - que, indignada, exige, imagine-se, «seriedade e boa fé negocial» -, anuncia-se pomposamente:

«No dia 15 de Dezembro, a Plataforma Sindical dos Professores compromete-se a apresentar uma proposta alternativa de solução transitória de avaliação, para este ano, que, nesse dia, tornará pública, provando que há soluções de maior qualidade para o ano em curso, que não passam pelo modelo que, segundo a própria Ministra da Educação afirmou na Assembleia da República, tem os dias contados».

Mas já não devia ter apresentado a dita proposta no passado dia 28 de Novembro, na anterior reunião na 5 de Outubro? Se a situação é tão grave, porque motivo desperdiçar semanas para apresentar essa solução alternativa, ainda por cima de «maior qualidade»? Isto faz lembrar as famosas propostas de Manuela Ferreira Leite para o país, mas que preferia manter em segredo, não fosse o partido do Governo copiá-las. Deve ser isto a que chamam "defesa do interesse público".

Curiosamente, vi hoje à tarde na RTPN uma longa entrevista em directo a Mário Nogueira -provavelmente a personagem com mais tempo de antena nas televisões e rádios portuguesas, o que não deixa de ser engraçado para alguém que se queixa da acção da propaganda ministerial (como se os professores não estivessem mergulhados, nas escolas, em propaganda sindical) - na qual vi o pivot fazer algo de que não me recordo ter visto nos últimos meses: confrontou Mário Nogueira com posições e promessas passadas, procurando explorar as suas contradições e omissões, sem ficar refém da cassete de um sindicalista profissional pouco habituado a ser confrontado pelos jornalistas.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Não se deixem enganar...

A única coisa suspensa foi o conjunto de greves da próxima semana...

A quem mete medo o Chile?

Uma das questões que mais celeuma tem levantado na discussão pública deste modelo de avaliação de desempenho de professores é o facto de, supostamente, ele ter sido importado do Chile. Um modelo vindo do Chile (isto é, de um país não-europeu!), conhecido por ter sido um laboratório, nos anos 70, do neo-liberalismo – entrelaçado num sistema político autoritário liderado por Pinochet seria, dizem-nos, inadmissível.

Ora, há aqui pelo menos três falsidades que importa desfazer:

(1) Se dermos uma olhada pelo relatório Teachers Matters da OCDE (2005), vemos que o modelo do Chile é apontado como um exemplo de boas práticas. As imagens seguintes reproduz uma box do relatório citado (págs.192-3), e no qual o modelo de avaliação de desempenho docente chileno merece destaque positivo.

























(2) O modelo português não foi “copiado”, porque não é de todo idêntico, mesmo que haja semelhanças. Para quem quiser ver, explore o site chileno relativo à avaliação de desempenho docente. Por exemplo, vemos imediatamente que os municípios têm um papel central na condução do processo - algo que está longe de acontecer no modelo português.

(3) Outra 'barbaridade' que se lê por aí é a associação deste modelo ao governo de Pinochet. Ora, o modelo foi implementado no ano de 2003 por um governo de coligação de centro-esquerda, então liderado por Ricardo Lagos. Foi, aliás, nesta legislatura que o Ministério da Educação chileno alargou a escolaridade obrigatória até aos 18 anos, o que faz do Chile uma excepção na América Latina na responsabilidade assumida pelo Estado na educação (como se pode ler aqui). Esta mesma coligação de centro-esquerda é hoje liderada por Michelle Bachelet, cujo actual programa de governo promete universalizar a guarda de crianças entre os 2 e os 5 anos.
Ou seja, qualquer associação deste modelo de avaliação – e já agora, do(s) governo(s) de Lagos (e Bachelet) - a um governo autoritário ou neo-liberal é pura má fé. Atitude a que, nesta discussão, já vamos estando habituados.

Por fim, vale a pena lembrar que, se o modelo chileno aparenta ser mais complexo e exigente do que o de muitos países europeus, é porque é um modelo recente, que incorpora ideias actuais resultantes da investigação nesta área (sabemos que é mais fácil criar um modelo do zero do que mudar modelos implementados há 2 ou mais décadas, cristalizados no tempo e nas instituições, e isso pode ajudar a perceber porque outros países europeus não tenham ainda mudado os seus sistemas no sentido de lhes conferir uma maior exigência). E isto é uma vantagem do modelo chileno, não uma desvantagem.