terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Uma de muitas vozes pela real valorização profissional
Manipulação estatística II
Fátima II
«O bispo auxiliar de Lisboa considerou que os professores têm sido usados como instrumento e que a questão da avaliação dos docentes tem sido extrapolada à custa da influência dos professores.
Em entrevista à TSF, D. Carlos Azevedo, que considerou que o ensino está, mesmo assim a atravessar uma boa fase, espera que a «arte tão difícil de ser professor não seja aproveitada meramente para os fazer reagir a uma dimensão muito pequenina que é a avaliação».
"Há aqui um aproveitamento do descontentamento só para a dimensão da avaliação e acho que os professores deviam estar mais atentos a estes processos", explicou o antigo porta-voz do episcopado.»
Ruptura anunciada?
Esperemos pelos próximos capítulos. Mas é provável que a aliança PSD-PCP na Plataforma já tenha vivido melhores dias...
Manipulação estatística
A FENPROF está mesmo à espera que acreditemos nos números que torna públicos? É lógico que este abaixo-assinado tinha que ter um pouco mais do que o de 2006, que tinha reunido, alegadamente, 65 mil assinaturas. Agora tinha que ser um pouco mais. 70 mil era um número previsível.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Estou comovido
"Líderes sindicais não têm avaliação nem progridem", diz o Diário de Notícias
"Maioria dos docentes acredita que avaliação vai prejudicar aulas e relação com os colegas", diz o Público.
Pergunto candidamente: mas seria aceitável o contrário??? A questão devia ser como é que Mário Nogueira chegou onde chegou na carrreira sem ensinar há duas décadas. Alguém se espanta que este sindicalista aceite que aulas observadas façam parte de um modelo de avaliação?
Um processo de avaliação cria "mau ambiente" nas escolas? Bom, talvez. Mas acho estranho que agora, só agora, os professores estejam preocupados com o "ambiente" nas escolas. No passado, antes de estarem "unidos", como agora dizem, ninguém se preocupava com a qualidade do clima humano no seu interior. E, garanto-vos pelos vários sítios por onde passei - e pelas pessoas que conheço pelo país fora - que esse clima não era famoso. Só quando chega a avaliação é que os meus colegas se preocupam com isso?
E já agora, se a avaliação cria mau ambiente, que tal acabarmos com a avaliação aos alunos? Assim, uma escola sem professores e alunos avaliados seria uma "escola feliz", como diz o poeta de serviço.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Facilitismos
Os dados são do Observatório da Avaliação de Desempenho, órgão criado pela Federação Nacional dos Sindicatos da Educação e pelo Instituto Superior de Educação e Trabalho, e foram inquiridos mais de mil docentes, mas a questão central é como foram seleccionados. É que se, como me parece ter acontecido, as pessoas preencheram o inquérito livremente on-line, então acontece o que acontece sempre em fenómenos deste tipo: os mais mobilizados, que são também, nesta altura, os mais descontentes, são os que mais respondem, acabando por ter uma representação nos resultados finais muito superior ao que teriam se a amostra sido tivesse cuidadosamente construída para respeitar critérios de representatividade da classe.
Se isto não aconteceu, estes dados valem o mesmo que aqueles que podemos obter num inquérito num site de um jornal ou de uma televisão, como já houve muitos. Ou seja, nada.
Fátima
Aparentemente, a visita não terá tido o impacto ou o significado que Mário Nogueira propagandeou; no programa "Prós e Contras" da segunda-feira passada, o Cardeal Patriarca de Lisboa, D.José Policarpo, sentiu a necessidade de desmentir que a Igreja tenha tomado alguma posição no conflito, e clarificar a sua posição:
«A Conferência Episcopal não tomou posição nenhuma. Eu soube disso pelo noticiário da rádio...O que aconteceu foi que uma determinada convergência sindical pediu uma audiência ao senhor presidente da Conferência Episcopal, que lha deu pessoalmente. É evidente que todos os meios de comunicação social, ao comunicarem essa audiência disseram "os bispos" (...) Eu fui presidente da Conferência Episcopal, sou bispo, não vou dizer se me reconheço ou não reconheço no que foi feito, [mas] eu não tive nada a ver com isso».
Para ser necessário vir esclarecer isto na televisão...
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Descubra a diferença
Há uns meses, quando uma professora e uma aluna andaram aos empurrões por causa de um telemóvel numa escola pública no Porto, o país entrou em histeria. Os meios de comunicação social não queriam saber de outra coisa. O Procurador-Geral da República ficou escandalizado. Meio mundo achava que a culpa era de you know who por ter tirado a 'autoridade' aos professores. Não havia quem não opinasse sobre a 'degradação da escola' e exteriorizasse a sua 'indignação'.
Perceberam a diferença, não perceberam?
Como não pensar a responsiblidade dos professores pelo (in)sucesso dos alunos
«De repente, com esta equipa esqueceram-se os principais factores nacionais geradores do abandono e do insucesso:
as condições sócio-económicas de muitos dos nossos alunos e dos seus pais;
a desagregação das famílias e respectiva ausência de autoridade;
a cultura dominante de que o êxito se consegue sem esforço ou que tudo tem de ser tornado fácil para se atingirem objectivos;
a desvalorização social da Escola e dos seus agentes, entre outros.
Fez-se cair toda a culpa na organização da Escola e no seu corpo docente».
Ora, sem dúvida que estes factores contam. Quanto a eles, qualquer Governo - que não necessariamente um Ministério da Educação, que, vale a pena lembrar os mais distraídos, tutela (e paga!) os professores, e não as famílias - pode fazer coisas importantes; por exemplo, melhorar as condições sócio-económicas e culturais dos indivíduos e agregados familiares, entre outras medidas (que os professores por vezes não gostam: como aproximar as famílias da vida da escola...). Mas, convém também lembrar, não pode resolver todos estes problemas. Pensar dessa forma seria aceitar que vivemos num universo totalitário, no qual os governos podiam resolver todos os problemas e podiam, inversamente, ser responbilizados, na íntegra, pela sua continuação.
Agora, sejamos honestos: será que os professores não têm qualquer responsabilidade - positiva ou negativa? É interessante verificar que quando os professores são bons e os alunos lhe ficam agradecidos, etc., ninguém questiona o "efeito-professor" (que as ciências sociais estudam há pelo menos três décadas, e que está mais do que demonstrado); quando não são tão bons e os alunos são prejudicados por esta situação, então toca a assobiar para o lado.
Ora, se os professores podem ter um efeito positivo, também podem ter um efeito negativo. Isto não é um "ataque aos professores"; é lógica elementar. O que não podemos é pensar da forma mais escandalosamente assimétrica e achar que os professores podem influenciar positivamente, mas não podem influenciam negativamente. Isto não é sério (e se o efeito fosse neutro, e apenas as variáveis externas contassem, então um dia poderíamos substituir professores por robots).
Para mais, não vi em lado nenhum qualquer governante dizer que a culpa (ou mérito) era toda dos professores. Se assim fosse, estes teriam que ser avaliados 100% pelos resultados escolares dos alunos, como pessoas que os professores tomam por aliados nos dias de hoje pensam: José Manuel Fernandes, António Barreto ou Desidério Murcho (como escreve na crónica de hoje) - estes sim, atribuem toda a responsabilidade dos resultados dos alunos à qualidade dos docentes!
Mas, pelo que sabemos, o critério das notas dos alunos contava apenas 6,5% na avaliação do professor. 6,5%! Se querem simplificar e brincar um pouco com os números, então temos que concluir que o ME considera que a responsabilidade dos professores no (in)sucesso se resume a 6,5%!
Claro que isto não se encaixa no discurso de vitimização de Maria Rosário Gama e da grande maioria da classe. Por isso, ignora-se. Assim, quando a autora cita Mia Couto para dizer que os professores têm «uma arma de construção massiva: a capacidade de pensar», era bom que a começassem a usar. Não vá alguém pensar que a arma é de plástico.
Estratégias suicidas
Pergunta adicional: se fosse um não-professor a escrever uma prosa destas, não ficariam os professores - a começar pelo beligerante dr.Ramiro Marques - extraordinariamente ofendidos?
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
A lei das 10 escolas por dia
Pelo menos, esta evolução é previsível. Tempos houve - há umas semanas, mais precisamente - em que os números variavam como se de uma montanha russa se tratasse.
domingo, 14 de dezembro de 2008
A FENPROF e a lei
Quando interessa, então já leva muito a sério o seu espírito e a sua letra, e toca então a prescrutar a lei do Governo para apanhar qualquer ilegalidade.
Este oportunismo, este instrumentalismo, este sectarismo não podem ser a cara pública da classe.
O dia em que a esquerda e os rankings dão as mãos
Já agora, senhores jornalistas, perguntem à dra.Rosário Gama qual o segredo dos resultados dos seus alunos. Deixo-lhes uma dica: talvez tenha a ver com práticas de selecção e triagem dos jovens aceites....Enfim, coisas nada de esquerda nem de defesa da "escola pública".
Mas quem sou eu para estragar a festa das "esquerdas"...
Está nas nossas mãos...
sábado, 13 de dezembro de 2008
Por favor, preciso de um dicionário
Assim, às tantas lê-se:
«(...) a) Procedimento de avaliação centrado na auto-avaliação, preferencialmente através de documento de reflexão, acompanhado de um dossier organizado com a planificação de aulas, testes, estratégias de intervenção, entre outros materiais do quotidiano lectivo do docente (...)».
Um dossier. Hmmm. É este o momento em que precisamos de um acto de hermenêutica radical, dado que o vilipendiado portefólio do modelo de avaliação do ME, causa de todos os males deste mundo e dos próximos, é substituído por um dossier organizado e acompanhado por todo o tipo de papelada - a tal papelada que, há umas semanas (antes de todos se terem lembrado que, afinal, o que estava em causa era o ECD), impossibilitava tanta boa gente de avançar com a avaliação.
Um portefólio ou um dossier, eis a questão. E acções de formação para a constituição do dito dossier, também vão reivindicar?
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Umbiguismos
Independentemente disso, a confissão do Paulo Guinote sobre o artigo de hoje foge completamente ao essencial. A Fernanda Câncio cita uma série de estatísticas da OCDE que permite colocar a educação em Portugal no mapa dos países mais prósperos. Alguns dos números são impressionantes - e um dia iremos a eles aqui neste blogue - e, claro está, desconhecidos da larguíssima maioria da classe docente portuguesa.
Esta atitude - feita de um misto de provincianismo, de elogio da ignorância, e de desprezo pela comparação do que é a realidade de profissionais de outros países (já para não falar da comparação com a realidade de outros profissionais em Portugal...) - é, afinal, compreensível. É a prova do umbiguismo da maioria dos professores. E da aversão a fazer perguntas como: será que as nossas condições são assim tão más, tendo em conta que trabalhamos numa das sociedades menos prósperas da Europa? será que não podemos fazer mais para melhorar um pouco a escola e a educação em geral em Portugal? será que o escarafunchar das nossas feridas profissionais não tem limites, perante a crise que a maioria dos portugueses vive?. São muitas outras perguntas deste género que ficam por responder...
Manifesto pela avaliação de desempenho docente
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Como estoirar com o prestígio da classe
Admirem-se depois que pessoas como o Miguel Sousa Tavares - cuja opinião é um bom barómetro do pensamento popular - achem, como disse há pouco na TVI, que isto tudo é uma «palhaçada» e que, com estas propostas, a classe só mostra que, lá no fundo, não aceita qualquer avaliação digna desse nome.
É que não basta ser sério. É preciso parecer.
O 'modelo'
E fez o papel que tem vindo a fazer das últimas vezes: de vítima.
Lei = propaganda?
Os e-mails, que, pelo que pude perceber, dão conta do que diz a lei, são apelidados de "propaganda fascista"; os 'panflas' sindicais, portentos de contra-informação e inverdades, é que são os panegíricos da liberdade. Bizarro, no mínimo.
Depois alguém se espanta que apareçam professores em prime-time televisivo a dizer coisas que, se tivessem lido ou compreendido a lei, teriam vergonha de dizer? Eu não. Não sei quantas pessoas, na minha escola, leram o decreto-regulamentar. Acho que foram poucas - muito poucas. Dizem que preferem não ler, e dizem-me que é 'propaganda'...
Da "ética" e da "cidadania" na escola
Uma grande cambalhota
DN, 23.11.2008
«Na sexta feira, para o encontro com a ministra da Educação, a Plataforma Sindical levará já uma proposta de avaliação para "salvar o ano lectivo". Será uma solução simples, sem questões burocráticas, transitória, focada na vertente científico-pedagógica e para aplicar aos professores em vias de progredir na carreira. (…) "Excluímos qualquer solução administrativa, como por exemplo, atribuir Bom a todos os professores, e qualquer simplificação do modelo actual", disse Mário Nogueira. O representante dos sindicatos adianta ainda que a proposta não será semelhante ao regime simplificado aplicado no ano lectivo anterior.»
TSF, 23.11.2008
«"Este ano deve existir um procedimento avaliativo também ele formativo, centrado na actividade pedagógica dos professores que não tenha nada a ver com administrativo", revela Mário Nogueira.»
Público, 24.11.2008
«O sistema que os sindicatos vão propor, avança, é "uma solução simplificada", que pretende aliviar os professores da carga burocrática do actual processo.Este sistema prevê uma avaliação centrada sobretudo na componente científico-pedagógica, explica, por seu turno, João Dias da Silva, da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE): "A avaliação deve incidir sobre as diferentes dimensões do trabalho do professor e não apenas na observação de dados administrativos", como o número de presenças ou a assiduidade».
Lusa, 25.11.08
«Questionado pela Lusa à entrada de uma reunião com o CDS-PP, Mário Nogueira não quis adiantar pormenores sobre a "solução avaliativa transitória" para os próximos seis meses, justificando que a proposta terá de ser primeiro apresentada ao Ministério. Limitou-se a dizer que será "centrada nos professores, na sua actividade com os alunos" e que irá envolver o conselho pedagógico das escolas».
DN, 27.11.08
«O porta-voz da Plataforma, Mário Nogueira, já tinha informado o DN que os sindicatos iam apresentar "uma solução simples, não administrativa e focada na vertente pedagógica que permita aos docentes serem avaliados este ano". Proposta agora concretizada por outros dirigentes do movimento sindical».
Hoje, dia 11.12.08, na TSF:
«A ministra da Educação reúne-se, esta quinta-feira à tarde, com a Plataforma Sindical dos professores, que vai apresentar a Maria de Lurdes Rodrigues uma proposta para que a avaliação dos docentes se sustente apenas na assiduidade e cumprimento dos serviços atribuídos a cada professor.
João Dias da Silva, secretário-geral da Federação Nacional da Educação antecipa à TSF a sugestão transitória que vai ser deixada no ministério. O dirigente sindical considera que a avaliação deve ser baseada em apenas dois parâmetros.
«É uma solução que passa pela capacidade para efeitos da avaliação deste ano de duas ordens de factores, quer de assiduidade quer de cumprimento do serviço distribuído em cada escola para os diferentes professores», explica o dirigente sindical.»
É impressão minha ou os sindicatos vão defender hoje à tarde uma coisa que juraram a pés juntos ser impensável há umas semanas?
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Logicamente, estaria em cima da mesa se a FENPROF tivesse ganho
O Ministério da Educação fez questão de enviar à Comunicação Social notícia da decisão do Tribunal Constitucional (TC) que decidiu não considerar inconstitucional a determinação de serviços mínimos em momentos de exames. A questão foi suscitada em 2005 e foi agora decidida.
No fundo, quem teve sorte foi a FENPROF, porque noutra altura isto teria mais visibilidade mediática - a que merecia.
Da "transparência"
No caso dos professores, chamamos a isto "práticas de solidariedade" - em contexto de guerrilha organizacional, claro, onde vale-tudo-menos-tirar-olhos.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Uma conspiração internacional
Verdades politicamente incorrectas
«(...) Existe hoje uma potente metodologia – desenvolvida, com sofisticados instrumentos estatísticos, desde meados dos anos 1990 – de avaliação dos docentes, baseada no valor acrescentado do conhecimento dos alunos atribuível aos docentes.
Estes estudos mostram que os bons professores estimulam os alunos e que a origem social da família de origem pode não determinar o destino do estudante. A correcta afectação dos docentes aos grupos de estudantes com diferentes prestações aumenta os resultados globais. Apenas 42% dos alunos fracos obtêm aproveitamento com maus professores; mas aquela percentagem passa a 90% se aqueles alunos tiverem bons professores. Por sua vez, 100% dos bons estudantes ensinados por bons docentes conseguem aproveitamento; a percentagem de aproveitamento destes alunos baixa para 90% se forem ensinados por maus professores.
Ora, sabemos que o sistema português – apesar da roupagem igualitária – gera uma afectação ineficiente e iníqua: os bons professores ficam, por norma, com as melhores turmas, enquanto os piores docentes ficam com as piores. O ganho da realocação de um bom docente de uma boa turma para uma turma fraca é muito superior à perda que se gera por substituir, numa boa turma, um bom docente por um docente fraco (...)».
[e do processo de distribuição das turmas pelos professores, a culpa também é da 5 de Outubro?]
Suspender é matar qualquer avaliação
«(...) Independentemente da valia do dito modelo, dos erros, dos problemas, e dificuldades do processo de implementação, estou convencido que a suspensão da avaliação resultaria no seu adiamento sine die, o que seria uma perda real».
Ainda bem que alguém escreve isto com todas as letras. Porque é exactamente nisto que os sindicatos e os movimentos ditos "independentes" apostam. E o Ministério da Educação sabe o mesmo, pelo que não suspende coisa nenhuma. Se o processo em curso fracassar agora, o ME sabe - e os políticos responsáveis deste país também - que nenhum Governo se volta a meter neste carrossel tão cedo. Sabem, pois, que é esta avaliação agora - reformável a curto prazo se for necessário, como o Governo já admitiu claramente e vem escrito no memorando de entendimento de Abril passado - ou nenhuma avaliação.
Não venham com conversas de modelos "alternativos".
Para efeitos de confirmação
O autor dá conta das «informações que chegavam das escolas, francamente desanimadoras, [que] criavam um risco real destas greves registarem baixa adesão e poderem ser o flop que logo o ME exploraria mediaticamente dizendo que os professores finalmente tinham entendido a manipulação de que estavam a ser alvo pelos sindicatos e partidos da oposição».
Desobediência
O argumento é comum: o governo nada pode, se toda uma classe se unir no desrespeito da lei. A ilegalidade colectiva goza de impunidade. Quando alguém exige o cumprimento da lei, corre o risco de ser apelidado de "fascista"...
Quando leio estas coisas, interrogo-me sempre sobre que valores passamos aos alunos. Mas a culpa, sabemos das salas de professores, nunca pode ser imputada aos profissionais. Tudo de mal só pode ter, sabemos, um responsável: o Ministerio da Educação!
Existe um nome para isto: chama-se irresponsabilidade organizacional (ou colectiva).
sábado, 6 de dezembro de 2008
Da "seriedade" e da "boa fé negocial"
No site da FENPROF - que, indignada, exige, imagine-se, «seriedade e boa fé negocial» -, anuncia-se pomposamente:
Mas já não devia ter apresentado a dita proposta no passado dia 28 de Novembro, na anterior reunião na 5 de Outubro? Se a situação é tão grave, porque motivo desperdiçar semanas para apresentar essa solução alternativa, ainda por cima de «maior qualidade»? Isto faz lembrar as famosas propostas de Manuela Ferreira Leite para o país, mas que preferia manter em segredo, não fosse o partido do Governo copiá-las. Deve ser isto a que chamam "defesa do interesse público".
Curiosamente, vi hoje à tarde na RTPN uma longa entrevista em directo a Mário Nogueira -provavelmente a personagem com mais tempo de antena nas televisões e rádios portuguesas, o que não deixa de ser engraçado para alguém que se queixa da acção da propaganda ministerial (como se os professores não estivessem mergulhados, nas escolas, em propaganda sindical) - na qual vi o pivot fazer algo de que não me recordo ter visto nos últimos meses: confrontou Mário Nogueira com posições e promessas passadas, procurando explorar as suas contradições e omissões, sem ficar refém da cassete de um sindicalista profissional pouco habituado a ser confrontado pelos jornalistas.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
A quem mete medo o Chile?
Ora, há aqui pelo menos três falsidades que importa desfazer:
(1) Se dermos uma olhada pelo relatório Teachers Matters da OCDE (2005), vemos que o modelo do Chile é apontado como um exemplo de boas práticas. As imagens seguintes reproduz uma box do relatório citado (págs.192-3), e no qual o modelo de avaliação de desempenho docente chileno merece destaque positivo.


(2) O modelo português não foi “copiado”, porque não é de todo idêntico, mesmo que haja semelhanças. Para quem quiser ver, explore o site chileno relativo à avaliação de desempenho docente. Por exemplo, vemos imediatamente que os municípios têm um papel central na condução do processo - algo que está longe de acontecer no modelo português.
(3) Outra 'barbaridade' que se lê por aí é a associação deste modelo ao governo de Pinochet. Ora, o modelo foi implementado no ano de 2003 por um governo de coligação de centro-esquerda, então liderado por Ricardo Lagos. Foi, aliás, nesta legislatura que o Ministério da Educação chileno alargou a escolaridade obrigatória até aos 18 anos, o que faz do Chile uma excepção na América Latina na responsabilidade assumida pelo Estado na educação (como se pode ler aqui). Esta mesma coligação de centro-esquerda é hoje liderada por Michelle Bachelet, cujo actual programa de governo promete universalizar a guarda de crianças entre os 2 e os 5 anos.
Ou seja, qualquer associação deste modelo de avaliação – e já agora, do(s) governo(s) de Lagos (e Bachelet) - a um governo autoritário ou neo-liberal é pura má fé. Atitude a que, nesta discussão, já vamos estando habituados.
Por fim, vale a pena lembrar que, se o modelo chileno aparenta ser mais complexo e exigente do que o de muitos países europeus, é porque é um modelo recente, que incorpora ideias actuais resultantes da investigação nesta área (sabemos que é mais fácil criar um modelo do zero do que mudar modelos implementados há 2 ou mais décadas, cristalizados no tempo e nas instituições, e isso pode ajudar a perceber porque outros países europeus não tenham ainda mudado os seus sistemas no sentido de lhes conferir uma maior exigência). E isto é uma vantagem do modelo chileno, não uma desvantagem.